Gente que Escapou às Formigas
Capítulo Menos Dois
Ou
Fuga às Formigas – Parte 2
Capítulo II
“Longistão, Setembro de 2006.
Querido pai,
Desculpa só agora responder à tua carta datada do mês passado e enviada por Correio Azul, mas como sabes o “Azul” não é para todos… muito menos para as terras como a nossa, que apesar de perto, ficam cada vez mais longe…
Mas, adiante…
Dizia eu: Querido Pai, espero que esta te encontre melhor do que quando escreveste a tua carta, onde denotavas sinais evidentes do teu adiantado estado de debilidade mental!...
Passo a esclarecer, e peço-te que não me leves a mal, pois sabes que só quero o teu bem:
Ponto 1 – Eu NÃO sou a tua filha!: sou o teu filho! – A morada da minha irmã, ninguém a sabe, principalmente depois de teres recebido o subsídio dos borregos e a indemnização da CP e a teres repartido “irmãmente”… pela TUA FILHA!
Ponto 2 – Essa que te acompanha NÃO é a minha mãe, pois como te deverás recordar, ela faleceu há uns bons anos… e, quando me via não dizia “Oi!, tudo legal???”! , para além de não ser da minha idade…
Ponto 3 – Já te disse várias vezes que esses comprimidos azuis que teimas em tomar, NÃO são para a TENSÃO, mas para outra coisa … com a mesma entoação…
Ponto 4 – Vê se esse mal-estar do estômago de que a Dulcineide Aparecida se queixa … não será devido a … gazes…
Ponto 5 – Tu próprio sempre me disseste que “Eras ateu, graças a Deus!”, então porquê essa tua súbita e inesperada “conversão” ???
Meu Pai, eu sei que a nossa terra fica longe de tudo e de todos… e que, quando se quer, podemos sempre dar a desculpa de que “É longe … e com chuva ainda pior…nestas estradas…” ou “São muitos quilómetros para fazer com este calor…” (ainda que tenhamos um carro da última geração com ABS e Ar Condicionado de origem, e GPS – opcional por mais 1000 euros)…
Sei que, quando matas um porco – que culpa terá o bicho??? – as distâncias se reduzem; sei que quando é Natal ou outro dia festivo, a meteorologia não interessa… Sei, querido Pai, que estás “à guarda” do Centro de Dia – ou Lar dos Velhos, como lhe chamas – não por opção tua mas por necessidade minha…
Todas as tuas queixas, meu pai, têm, pelo menos, uma razão de ser: Interferires o menos possível com a vida daqueles a quem a deste.
No entanto fico preocupado quando dizes que vives no “Galapitoquistão”… mas, pai, não foste tu quem votou nele para gerir a nossa Vila Formosa? Não foste tu quem bateu palmas quando ele disse que “Ia tomar conta do Lar”? Não foram todos os que vegetam à sua volta, que permitiram a quase Galapitocracia em que vivem???
É que, pai, repara bem: eu vou aí muito poucas vezes; gosto de ver a minha terra bonita, com fontes iluminadas e jardins arranjados mas… És TU quem aí passa os dias e só TU poderás tomar atitudes com conhecimento de causa!!!
Sabes que essa de “emprenhar pelos ouvidos” normalmente dá mau resultado, pois quem nos “emprenha” normalmente só “passa os seus genes” e, num caso destes, talvez fosse bom um pouco de “promiscuidade”…
E não é com atitudes obscuras que se consegue algo (já lá vai o tempo – felizmente o tempo das clandestinidades e das pinturas murais já passou!!!)
Não há ninguém “intocável” – e esse Deus de que te queixas deveria saber disso, tendo em conta o seu passado…
Por isso te digo, querido pai: Estás velho, mas não estás morto! Mexe-te, como me mandaste mexer a mim quando me viste a ir abaixo! Faz ouvir a tua voz e … se precisares… LIGA À TUA FILHA! Que eu tenho mais que fazer …
Um beijo do
Teu Filho “
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